Arsénio Mota homenageado em Bustos (10 tópicos para uma comunicação)

1. A homenagem

Bustos do Passado

Estamos aqui para festejar o lançamento de um livro que assinala os cinquenta anos de vida literária de Arsénio Mota (AM). A palavra festejar parece apropriada, porque se trata de um amigo, um bairradino ilustre que tem dedicado a sua vida à escrita e à cultura, e também um conterrâneo vosso, nascido neste mesmo chão de Bustos, a quem ofereceu já três livros que revelam bem o seu apego às raízes: Bustos. Elementos para a sua História (1983); Bustos do Passado (2000) e Recordações do Berço (2003). Nada melhor que o termo festa para traduzir este encontro: festa da amizade, da sensibilidade, da inteligência e do espírito.

2. O livro

«Arsénio Mota – 50 Anos de Escrita» reúne o testemunho de amigos e admiradores. São contributos que ajudam a traçar-lhe o perfil, peças de um puzzle onde encaixam as variadas facetas da sua vida. Apesar disso não nos dão um retrato de corpo inteiro. Há sempre perspectivas que ficam de fora, porque nada é definitivo no estudo e na análise de uma vida. Ele próprio, com a proverbial humildade que o leva a considerar sempre exageradas as apreciações elogiosas dos amigos, confirma isso numa das suas quadras: «Os olhos dos amigos/ São grandes coloristas: /Até em figos secos/ Põem verdes de artistas!».[1]

A Bandeira EscondidaComo o título indica, o livro assinala os 50 anos da sua estreia literária. Essa actividade assumiu ao longo dos anos várias formas de expressão: a poesia, o conto, a crónica, o ensaio, estudos e antologias e sobretudo a literatura para crianças, que é onde, a par da crónica, eu penso que ele cumpre melhor a sua função e vocação de escritor.

Não vou falar propriamente do livro. O que quero transmitir-vos é a minha opinião pessoal sobre o Arsénio, aquilo que julgo serem alguns traços mais marcantes da sua vida e obra.

3. As origens

AM nasceu no dia 25 de Abril de 1930. Portanto, apenas 10 anos depois de o lugar de Bustos se ter separado da Mamarrosa (18 de Fevereiro de 1920) e passar a ser uma freguesia independente. Não custa adivinhar que o meio em que cresceu era pequeno demais para o tamanho das suas ambições culturais, para a sua sede de infinito, e que as perspectivas de realização pessoal eram escassas. Começou cedo a escrever em jornais. Com pouco mais de 20 anos já colaborava na Gazeta do Sul, na Gazeta de Cantanhede e na Independência de Águeda.

4. O Emigrante

Antes de ir para o Porto, mas já depois de conhecer a rudeza da vida agrícola da sua região, AM emigrou para a Venezuela (1956-1959). Esta faceta de emigrante é curiosa. Fê-lo para ganhar alguma autonomia económica, reunir um pé-de-meia que lhe pudesse dar algum desafogo material para se dedicar à escrita. Emigrou porque, sendo para si mais compensador o trabalho intelectual, sabia também que esse trabalho é o de remuneração mais incerta (daí os problemas que levanta acerca da propriedade intelectual). Cedo quis estar na literatura. E a verdade é que, quando regressou, não fez como os emigrantes tradicionais que são bem sucedidos: não construiu casa, nem ficou a residir na sua terra. Abalou para o Porto. O apelo da cultura e o convívio das tertúlias e cafés era mais forte.

5. A permanência no Porto

Canto DesconformeQuando fixa residência no Porto, em 1963, ingressa como redactor no Jornal de Notícias. Por essa altura já tinha publicado 2 livros de poesia, que assinava como Arsénio de Bustos: O Canto Desconforme (1955) e no ano seguinte Hoje com Harmonia Dentro. Tudo levava a crer que a poesia o tinha conquistado, mas seria a prosa a levar a melhor.

A opção pelo jornalismo teve a ver com o facto de ser a profissão mais próxima da escrita.

Interrompeu essa actividade de jornalista para uma experiência breve na tradução e edição de livros. Regressou a ela e ao Jornal de Notícias após a revolução de Abril de 1974 e aí se manteve até atingir a aposentação.

6. Arsénio Mota jornalista

Costuma dizer-se que o jornalista «mata» o escritor, o que levanta a questão de se saber até que ponto o jornalista e o ficcionista não se confundem. Jornalismo e literatura são duas actividades que apenas têm de comum o recurso à escrita, pois têm códigos expressivos distintos. Como se sabe, o tempo da escrita literária e da escrita jornalística são diferentes. O jornalista escreve textos o mais possível unívocos, tem que ser objectivo, claro e conciso, preparar mensagens que sejam facilmente compreendidas pelos leitores. Só enquanto escritor dá livre curso à sua imaginação, usando metáforas ou outros recursos estilísticos, sem estar sujeito às regras dos habituais livros de estilo.

6.1 – A arte da crónica

Na actividade de jornalista cultivou sobretudo a crónica, à qual imprimiu as marcas pessoais do seu talento. A sua arte não se degradou na crónica, antes se reafirmou nela, numa espécie de conversa íntima com o leitor, tratando dos assuntos mais variados. É bem provável que algumas das suas crónicas tenham sido o espaço de incubação de alguns textos ficcionais.

Bustos do Passado 1
Jornal de Notícias, 22.10.1988

Gostaria de realçar este aspecto curioso: a coluna do Jornal de Notícias onde AM inseria  crónicas chamava-se Linha de Água. O escritor Augusto Abelaira, natural de Ançã, concelho de Cantanhede, assinava crónicas no já desaparecido semanário O Jornal, numa secção cujo título era Escrever na Água. Um e outro título parecem ter a ver com o carácter efémero da crónica. Escrever na água não deixa rasto, nem marcas impressivas, é uma escrita que não aspira à posteridade. Mas a Linha de Água tanto pode querer significar espaço de separação como de diluição entre os géneros literário e jornalístico. É que uma crónica escrita com arte está na fronteira entre os dois géneros: é jornalismo, porque é a actualidade que a comanda; e é literatura (ou, pelo menos, paraliteratura), na medida em que essa escrita é expressão de uma personalidade literária e de um estilo muito peculiar. AM explicou-me que «Linha de Água» também induzia a memória dos rios na cartografia, que costumam ser figurados a tinta azul, ao passo que nós também escrevemos no papel com tinta dessa cor.[2]

6.2 – O Vírus Entranhado, ou a reflexão sobre os problemas do jornalismo

O Vírus Entranhado é um livro de contos em que os problemas do jornalismo, da comunicação e dos seus efeitos perversos, estão presentes. Num desses contos, «O zumbido», põe a nu as misérias do jornalismo, denuncia os que se prestam a serviços que nada têm a ver com a profissão. «O zumbido» é um grito de alerta contra as capelinhas instituídas. Para AM o jornalista deve procurar a honra e recusar as honrarias, deve ser livre. E não são livres os que, em vez de fazer jornalismo autêntico, passam a vida a fazer fretes ao poder do momento e se servem da profissão para atingir posições ilegítimas e que por isso mesmo não os dignificam e os aviltam.

«Toda a nudez» é também um conto exemplar. Alerta-nos para o potencial de vigilância das tecnologias no mundo actual. AM alude objectivamente às modernas técnicas de vigilância baseadas no panóptico de Bentham e que Michel Foucault desenvolve posteriormente em Vigiar e Punir. O que este dispositivo tecnológico permite é ver sem ser visto, acabando o vigiado por tornar-se vigilante de si mesmo. A tecnologia moderna consistiria nisso mesmo: na capacidade que tem, enquanto dispositivo de visibilidade, de auto-punir, auto-vigiar, auto-censurar. É contra esta forma de disciplinar e normalizar os cidadãos que AM se insurge, numa recusa clara da expropriação crescente da individualidade.

6.3 – A escrita de ficção

Quer falemos em jornalismo quer falemos em literatura, temos que lhe agradecer uma escrita limpa, enxuta e sóbria em adjectivos, despida de superficialismos, que faz dele uma espécie de operário das palavras, que as trabalha arduamente até se transformarem em «pequenas maravilhas de dizer expurgado [e] de concisão, que na aparente simplicidade da palavra nua captam os ritmos dominantes da vida».[3] A escrita de AM é um rio de muitos conhecimentos, cujo caudal engrossa à custa dos afluentes culturais mais variados.

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Enquanto ficcionista escreve literatura, textos «abertos». São assim os seus livros, sobretudo os de literatura infantil. Em vez de confirmarem certezas prévias, que não nos entusiasmam nem nos encantam, esses textos inquietam e estimulam, dão ao leitor a possibilidade de tentar apreender os vários sentidos de uma obra, mantendo aceso o lume da expectativa inicial. Como sabe que a faculdade de imaginação do leitor é soberana, AM tenta adubá-la, enquanto o leitor convive com o texto e faz dele seu acompanhante. Se a literatura ainda serve para alguma coisa, é para iluminar o leitor, dar-lhe saídas e despertar nele o gosto pelo novo, exercitar a capacidade de tornar diferente a vida humana. AM não alinha na ideia segundo a qual só se assimila o que é fácil e não requer esforço, pretexto que serve para se lançarem no mercado produtos indigentes e que roçam a mediocridade. Num tempo em que a fuga ao acto de pensar é um traço distintivo do pensamento contemporâneo, o seu mérito reside na capacidade de verter em escrita clara e acessível as suas ideias e pensamentos, por mais densos e meditados que sejam.

Em síntese, pode dizer-se que soube conciliar exemplarmente essas duas actividades de jornalista e de escritor, sem que nenhuma delas tenha subsumido ou prejudicado a outra.

7. Arsénio Mota no panorama literário português

De uma forma resumida, pode afirmar-se que a vida literária actual gira um pouco em torno destas 3 vertentes:

a) A chamada literatura «light», a que os seus cultores preferem chamar «escrita pop». É uma escrita que se repete e copia frases inteiras de uns livros para os outros, transcreve outros autores sem lhes atribuir a origem e passa rasteiras à gramática, para lá de outras malfeitorias. Sendo «light», supostamente não faz mal, como os iogurtes e o tabaco light. O pior é que faz, até porque já tem alguns clones, fotocópias ainda piores que o original. AM rejeita esta imitação grosseira de literatura, tipo folhetim urbano-depressivo, onde os afectos estão ausentes e que reduz o leitor a um estado mental vegetativo e à anulação do pensamento e da criatividade.

b) Uma corrente que faz gala da obscuridade e procura fazer da ilegibilidade uma marca de literatura de qualidade, um pouco na base do lema «sê profundo e serás bom». São livros geralmente demasiado profundos para os nossos pobres neurónios…

c) finalmente, a corrente que engloba meia dúzia de autores consagrados (Saramago, Lobo Antunes, entre outros) e que tem a ver com a ideologia do mercado, que ao infiltrar-se no domínio da criação literária e da crítica de arte, tende a considerar como bom o que mais se vende e consome. E o que mais se vende e consome, hoje em dia, não é o miolo dos livros mas o nome do autor que os publica. Letra sob Protesto é o livro de AM que aborda de forma exemplar estas temáticas. Aí se mostra como o espaço da criação é cada vez mais reduzido pelas lógicas de mercado. É também neste livro que presta comovente homenagem aos autores marginais, os que não estão nos tops da FNAC. É neles que deposita, aliás, a esperança de renovação da literatura, de alguma originalidade ou inovação estética. O facto de um autor não ser ungido com a água-benta que garante as vendas em massa e não ter a incidir sobre ele os holofotes da publicidade, não significa que ele não tenha para publicar trabalhos inovadores e de qualidade. O grave é a crítica não dispensar atenção a valores regionais. Prefere concentrar-se em escritores que são ou vivem na capital, fazendo o elogio a textos de autores cuja inspiração há muito mirrou (este é um dos muitos problemas da crítica, da sua franqueza ou hipocrisia, do seu didactismo ou da sua superficialidade). Mas também não é menos verdade que certas obras não se escoam porque a qualidade, no seu sentido mais amplo, está muitas vezes ausente.

No meio disto tudo AM é um escritor à margem das grandes correntes instituídas e das capelinhas literárias onde abundam os profissionais do elogio mútuo, que trocam favores e carambolam elogios em circuito fechado. Ao contrário, tem um percurso singular, procura erguer pacientemente os seus trabalhos a partir de uma grande exigência ética. Não escreve ao quilómetro, para simples entretenimento, ou para engordar a conta bancária, embora conheça de cor as receitas para o sucesso a qualquer preço.

8. A preocupação com os «autores regionais» e com a literatura marginalizada

Um texto pode ser marginalizado por razões de ideologia literária, político-religiosa, mas sobretudo de economia de mercado editorial ou distribuidor. Hoje é o gosto do público (inculcado pelos media) que comanda poderosamente a produção artística. A literatura marginal poderá deixar de o ser a partir do momento em que entra no goto ou no gosto geral (a partir do momento em que deixa de ser ponto de encontro de minorias, ou lugar de reconhecimento de minorias) e é recuperada pelos representantes oficiais ou oficiosos da cultura dominante. AM não vai por aí. Sabe que os homens de cultura autêntica não confundem cultura com mercadoria, se situam «fora do sistema de valores de troca de mercado. Quer dizer, recusam-se ao frio pragmatismo como linha de vida, entrando em ruptura total com o mundo do seu tempo».[4]

São autores marginalizados também os autores regionais, os que vivem arredados dos grandes centros e sobretudo da capital, distanciados das editoras, dos órgãos de comunicação social de maior audiência e dos círculos sociais influentes. AM fala-nos das dificuldades para se editar uma obra, alerta-nos para as faltas de atenção dos leitores perante a obra publicada, ou para a cegueira dos críticos e jornalistas que só têm olhos para os autores consagrados.

O problema da recepção das obras é importante. O autor regional não pode contentar-se apenas com o cerimonial de circunstância que é a apresentação do seu livro. Deve aspirar vê-lo nas mãos de quem o possa ler, discutir e até criticar, pois a divulgação e a leitura determinam a notoriedade ou o estatuto marginal que o autor detém no campo das letras. Nos tempos que correm a figura do escritor carece de permanente legitimação, a qual lhe é conferida pela crítica, pelas vendas, pelos leitores, pelas escolas ou até pelos prémios que obtém.

Que fazer, então, para que os autores e escritores regionais deixem de viver cercados pelo anonimato? AM convida-os a repensar a sua estratégia, provando que a província tem paisagem, que esta é vasta … e literária! Uma das saídas que aponta passa por uma estratégia de captação dos leitores mais próximos da envolvência de cada autor. Como conseguir isso? Escrevendo sobre temas ligados à sua terra e à sua região, que espelhem as suas potencialidades culturais e literárias, encontrando aí «o público que de outra forma, noutros lados, não têm ou lhes escasseia».[5]

Essas obras devem, tanto quanto possível, ser elaboradas numa óptica regional. O tempo que vivemos, de forte valorização dos particularismos locais, é propício a isso. É um tempo de reacção ao que AM chama «o esmagamento da diversidade no molde unificador da aldeia global».[6]

9. Cultura da (e na) Bairrada

Passo ao tema final desta intervenção. Refiro-me aos esforços empreendidos por AM a favor da cultura bairradina. Esforços que passaram pela reabilitação do espírito da plêiade, fundada em 1918, onde pontificaram nomes como Acúrcio Correia da Silva e António de Cértima; pelo recuperar da visibilidade de tantos outros mergulhados num esquecimento imerecido; finalmente, pelos contributos que deu, sistematizando os já existentes, para a definição e delimitação da região da Bairrada.

Estudos RegionaisA cultura regional pode entender-se como um conjunto de valores – aspectos literários, linguísticos e antropológicos – capazes de definir e valorizar uma região. AM procurou respostas para interrogações do tipo: como se define a nossa região em termos geográficos e culturais? Que trabalhos revelam e exaltam o espaço bairradino? Existirá, na Bairrada, um conjunto assinalável de obras que configure uma corrente literária regionalista? Tem a Bairrada aspectos paisagísticos, tipos humanos e linguísticos distintos dos de outras regiões portuguesas? Se tem, em que obras estão presentes? Até que ponto a psicologia do bairradino é moldada pela ambiência dos nossos campos de milho e vinhedos, e pela corografia de horizontes, aqui e ali tapada pela mancha dos pinhais? A fala do camponês bairradino é circunscrita a este espaço geográfico ou é comum à fala dos camponeses de todo o país? Eis algumas questões a que continua a ser urgente dar resposta, não tanto por se encontrarem na ordem do dia, mas precisamente porque às vezes o não estão.

Apesar do carácter fortemente controverso das perguntas atrás enunciadas, AM não foge a discuti-las e a dar-nos frontalmente o seu ponto de vista. Fá-lo em nome da defesa, valorização e divulgação de uma memória local e regional. É no final da década de 80 do século passado que se lança com grande entusiasmo nesta tarefa. Em 1989, na Câmara de Anadia, participa no relançamento do livro «Versos do Campo», do poeta popular José Francisco Moreira. Ao apresentar o poeta, já então falava «do desamor que vem condenando sistematicamente a cultura bairradina às urtigas».[7] É também em 1989 que explica com entusiasmo como encontrou o Hino da Bairrada, logo vendo nele «outro elemento para desencantar a região adormecida». E acrescentava: «Eu gostava de ver esta música, com o poema, a correr na Bairrada de boca em boca».[8] Recordo, também, a alegria que deixou transparecer nas páginas do suplemento cultural Terra Verde, quando finalmente conseguiu ter em mãos um livro de poesia que não aparecia em lado nenhum, as Seroadas Fulvas, do padre Acúrcio Correia da Silva.

Ao fundar, em 1990, a AJEB – Associação de Jornalistas e Escritores da Bairrada, a cuja direcção presidiu durante quatro mandatos, a região adquire um dinamismo cultural e fervilha de entusiasmo como há muito não se via. Convocam-se reuniões, sucedem-se os encontros, editam-se livros e antologias, cria-se o suplemento literário Terra Verde, distribuído com o Jornal da Bairrada, instituem-se prémios literários e homenageiam-se escritores. Todas as iniciativas têm a participação activa e a marca pessoal e inconfundível de AM. Para lá disso organiza Letras Bairrradinas (1990), uma antologia de poetas e prosadores que cantaram ou deram testemunho da região; Estudos Regionais sobre a Bairrada (1993); Pela Bairrada (1998); um estudo biográfico sobre António de Cértima (1994) e Figuras das Letras e Artes na Bairrada (2001).

10. Agradecimentos

A finalizar, quero expressar um desejo e dois agradecimentos. É preciso divulgar as obras de Arsénio Mota. Ler e dar a ler os seus livros é talvez a melhor homenagem que podemos prestar-lhe. Deixar que se afundem na penumbra das bibliotecas, ou que sobre eles pouse o habitual pó do esquecimento, é fazer deste encontro de amigos uma convenção e não uma convicção.

Homenagem Arsénio

O primeiro agradecimento vai para Bustos e para os bustuenses. As gentes de Bustos, as suas instâncias políticas, agremiações desportivas e associações culturais – e aqui é proibido esquecer o blogue de Bustos – estão de parabéns. Souberam unir esforços e congregar vontades. Esta reunião de amigos mostra que sabem manifestar sentimentos de gratidão aos seus melhores, neste caso a um dos seus filhos mais dilectos e representativos.

Finalmente, o agradecimento devido ao homenageado, por tudo o que tem feito pela cultura em geral, e pela cultura da Bairrada e de Bustos em particular.

Aqui fica o reconhecimento a um homem que tem feito da escrita uma espécie de última trincheira da liberdade. O que emerge destes 50 anos de vida literária é a interpelação permanente do leitor, a humanidade e a esperança como contraponto à erosão dos valores do presente, o exercício cívico da liberdade, da fidelidade às ideias e da lealdade nos afectos.

Não queremos, caro Amigo, que este encontro seja uma espécie de epitáfio da sua actividade literária. Sabemos que vai continuar a brindar-nos com a prosa sumarenta a que sempre nos habituou. E que não deixará de ser, como sempre foi, o homem das «húmidas ternuras» de que falava Raul Brandão.

(Este texto serviu de base à comunicação do autor, apresentada em 19.11.2005, no almoço de homenagem e confraternização que teve lugar no restaurante da APALB (Associação dos Produtores e Assadores do Leitão da Bairrada), sito na Quinta da Queimada – Bustos, no âmbito da apresentação do livro Arsénio Mota – 50 anos de escrita).


[1] Arsénio de Bustos, Colheita de Outono [publicação artesanal], Porto, 1992, p. 12.

[2] Agradeço a Arsénio Mota esta informação e a de que manteve diversas rubricas de crónicas no Jornal de Notícias, tais como «Restos de Civilização» e «Cidade aberta», entre outras.

[3] Ramiro Teixeira, «Entre o Passado e o Presente», Jornal de Notícias, 28.05.1986, p.11

[4] Arsénio Mota, «Cultura a Limpo», Jornal de Notícias, 22.10.88

[5] Idem, «Estudos regionais – Uma abordagem», Boletim Municipal de Aveiro, Ano XV, nº. 29-30, p. 15.

[6] Idem, p. 16.

[7] Jornal da Bairrada, nº. 985, 21.07.1989, p. 24.

[8] Arsénio Mota, «Do Buçaco ao Vouga», Jornal da Bairrada, nº. 986, de 28.07.1989.