Recordar Mário Sacramento nos 50 Anos de Abril

Recordar Mário Sacramento nos 50 Anos de Abril

A vida e a obra de Mário Sacramento não podem ser dissociadas da circunstância histórica do tempo que lhe foi dado viver, com as suas possibilidades e os seus limites. Nas condições em que então era possível debater questões relevantes para a sociedade portuguesa, o ensaísta soube viver e interpretar “o drama tensional entre a necessária afirmação da praxis e a necessária interrogação da teoria”.[1]

Falamos de um tempo em que não era fácil discutir ideias, em que havia prisões arbitrárias para quem ousava pensar ou escrever diferente dos cânones impostos pelo regime. Anos de chumbo, povoados de sombras e medos de rumar a Peniche, a Caxias, ao Tarrafal, ou até de sucumbir às minas e emboscadas da guerra colonial. Um tempo em que a censura amordaçava a imprensa. Salazar dizia que “o jornal é o alimento espiritual do povo e deve ser fiscalizado como todos os alimentos”.[2] Também os livros passavam pelo crivo da censura e os considerados incómodos eram apreendidos e retirados do mercado. Só que a extensão destes atropelos era ainda mais vasta: da imprensa ao cinema, do teatro à música e à literatura, nenhum domínio da informação e da criação artística era descurado pela ditadura de Salazar.

Tempos, também, de perversidade conventual, como se pode ler no seu Diário. No lar de freiras em que a filha estava hospedada, na Lisboa dos anos 60, “não deixam as pensionistas andar de calças – mesmo de pijama – porque fazem lembrar homens (às freiras, claro!) [e porque] consideram o refeitório da Cidade Universitária um lugar de perdição [e por isso] estão volta e meia a chamar para orações, ao que muitas ou algumas se furtam escondendo-se nos armários”.[3]

Mário Sacramento, com a sua participação precoce em actividades culturais, acabaria detido pela primeira vez com apenas 17 anos, quando era estudante no então Liceu José Estêvão e primeiro director do jornal  A Voz Académica, mensário fundado por Agostinho da Silva e que difundia as preocupações de uma juventude inconformista.[4] Outras três prisões se seguiriam, com a polícia política a espiar-lhe todos os movimentos. Um itinerário cívico e político vigiado em permanência.

Curiosamente, eram os que mais o acusavam de sectarismo ideológico os mais dogmáticos na análise da sua obra. Manuel Anselmo, nos cadernos periódicos de apologia ao regime de Salazar, deixaria exarados em 1960 estes comentários aos Ensaios de Domingo: “[Mário Sacramento] repete servilmente a lição que aprendeu com os escritores soviéticos ou sovietizantes”,  num “vocabulário demagógico deste papagaio do marxismo na gaiola da literatura” (…). Não perde Sacramento a ocasião para um comíciozinho ateizante (…). É por isso que livros como estes Ensaios de domingo me repugnam duplamente: pela escravidão de inteligência que documentam e pelo sinistro projecto de propaganda que servem”.[5]

Neste pensamento mecânico, previsível na justeza do dente com a calha e onde sobressai a recusa do pensamento crítico, Manuel Anselmo espelha bem a alienação que o aprisiona mas que por cegueira ideológica só descortina nos escritos de Mário Sacramento. A receita é por demais conhecida. Limita-se a misturar os ingredientes  que à época andavam associados ao Mal e por isso colocavam em causa a “verdade” oficial da ordem estabelecida: os ateus e os marxistas. Sempre assim foi. A fé precisa do Mal – e também do medo, habitual cão de guarda das ditaduras – para se alimentar. Mário Sacramento era associado pelos coriféus do Estado Novo aos inimigos da nação e da falta de respeito pelos valores tradicionais de Deus, Pátria e Família. Como certeiramente escreveu O’Neill, para o caso português: “Neste país em diminutivo – respeitinho é que é preciso”.[6]

Ao contrário do que anunciavam, no seu piar agoirento, algumas aves canoras da ditadura política do Estado Novo, Mário Sacramento colocava a inteligência acima do dogma, embora sem abdicar de princípios e convicções. Havia nele a capacidade de nos espevitar, de nos pôr a caminho para qualquer coisa, mas sem calculismos estreitos e oportunistas. Era um homem predisposto ao diálogo com os que estavam interessados em exercitá-lo de forma bem intencionada e sabia reconhecer a inteligência dos argumentos de quem dele discordava: “a sinceridade não teme o confronto: procura-o”.[7]Conhecedor do peso e da influência do catolicismo em Portugal, negá-lo não seria dialéctico. Curiosamente, ao encetar esse diálogo com os católicos acabou por ser brindado com alguns reparos dos que lhe eram mais próximos, que consideravam a iniciativa uma “perda de tempo” no ambiente cultural limitado, ou até inexistente, de uma pequena cidade de província como era então Aveiro.[8]

Prova dessa disponibilidade aberta para o diálogo é o que aconteceu em 1966 em Aveiro, uma “cidade ventosa mas a apodrecer de calmaria”.[9] O Concílio Vaticano II tinha actualizado, em muitos aspectos, o pensamento da Igreja. Só que para Mário Sacramento – sempre à procura de consensos no plano da praxis do imediato, o mesmo é dizer da política – esses ventos de renovação continuavam “encalhados em Vilar Formoso”. Era preciso sacudir o torpor geral, romper com o silêncio dos hierarcas do catolicismo. Não bastava abolir o latim. Urgia, também, encetar um diálogo entre crentes e não crentes que esbarrava com as maiores dificuldades. A fé dos crentes não podia matar a dúvida, transformando-a em silêncio.

O ensaísta recusa enfileirar naquilo que é a marca mais profunda do homem contemporâneo: a fuga ao acto de pensar. O apelo que faz ao diálogo  é uma homenagem de fidelidade ao homem, mas também uma reacção contra as tendências que o diminuem ou amesquinham. É um hino em louvor do questionamento, do pensar com (e em) liberdade. Sondar o que está para lá dos factos requer uma leitura mais profunda, densa, que recuse as evidências do senso comum e subverta uma leitura calmante desses mesmos factos. O domínio das regras da Lógica e da Retórica permitia-lhe encarar qualquer diálogo com seriedade, rigor de análise e distanciamento crítico. Ao contrário de outros, que se mostram incapazes de resistir à tentação de ver inimigos em todo o lado e tendem a substituir o debate pela pura guerrilha, que só afasta as pessoas e desgasta os problemas.

Lá fora esse debate era posto à prova, sem escamotear diferenças de ordem filosófica ou de visão do mundo, mas assente numa fraterna pluralidade de confrontos. Para que tal fosse possível entre nós, contribuiu de forma decisiva Mário Sacramento. Foi dele que partiu o desafio aos católicos conciliares, com propostas teóricas nas acanhadas circunstâncias em que isso era possível naquela altura. São dele estas palavras: “Aceitei dialogar, nestes últimos tempos, com os católicos. Se tivesse nascido num país protestante ou árabe ou budista, tê-lo-ia feito com esses”. [10]

Se para muitas pessoas Vergílio Ferreira foi o escritor das suas manhãs submersas, para mim foi o primeiro volume das obras de Mário Sacramento publicadas a título póstumo – Frátria – Diálogo com os Católicos (ou talvez não) – que acabou por me marcar de forma profunda. E não foram apenas os seus notabilíssimos ensaios sobre a fé (do latim fides, que significa confiança, honestidade, lealdade) que me interpelaram. Foi, também, aquilo que ao longo do livro aprendi no que se refere a uma verdadeira arquitectura do diálogo: “É porque há desacordo que um diálogo urge. Onde toda a gente tem o mesmo parecer, basta acenar com a cabeça como os burros”.[11] Um diálogo que entendia como “desprendimento de vaidades e sectarismos” e capaz de resistir à tentação de arregimentar claques aquiescentes: “não busco uma claque, no mau sentido desportivo, regionalista ou político, mas um auditório de cidadãos responsáveis que dêem razão (crítica e esclarecida) a quem a tiver – seja eu ou outro…”.[12] Saber apelar à melhor parte de nós mesmos, cindindo o que em nós existe de “anjo” e de “besta”, como dizia Pascal, eis o que procurava e nos propunha Mário Sacramento, não com o objectivo de crentes e não crentes se tentarem mutuamente converter, mas para encontrarem plataformas de entendimento no plano ético e nos desafios com que a sociedade os confronta.

Mário Sacramento não confundia o confronto civilizado com um palco onde se desenrolam duelos de caneta. Frátria é um hino à compreensão das diferenças, onde é possível perceber que a fé transcende as ideologias e o debate entre marxistas e católicos permite equacionar as relações entre a existência e a transcendência. Não sendo crente, sabia bem que o pior, segundo o próprio Evangelho, é guardar o talento confiado, não o disponibilizando aos outros. Como observou de forma particularmente lúcida Mário da Rocha – um dos intervenientes nesse diálogo, em que também participaram o padre Filipe Rocha e Ançã Regala – “viver era nele um verbo transitivo. E o diálogo foi seu complemento directo”.[13]

Cinco anos após o seu desaparecimento em Março de 1969, quando contava apenas 49 anos, acontecia a revolução de Abril de 1974. Apesar de ter sido uma figura incontornável da oposição democrática ao Estado Novo, Mário Sacramento não escapou a polémicas, rejeições e intolerâncias várias quando se procurou homenageá-lo com a proposta de atribuição do seu nome a uma rua ou até para patrono da antiga Escola Secundária n.º1. Aconteceu em Ílhavo, onde nasceu em 1920, e em Aveiro, cidade onde passou a residir e onde tinha consultório médico, a partir de 1957.

Entre alguns mitos que os Congressos Republicanos de 1957 e 1969 e da Oposição Democrática de 1973 geraram, encontramos o da cidade progressista, apesar de muitos não terem conseguido libertar-se dos cadeados da intolerância e das crostas dos preconceitos. E encontramos também o volúvel conceito de  aveirismo, essa espécie de visão ptolomaica e até provinciana dos que encaram a cidade como o centro do mundo, arvorando-se em lídimos representantes e fiéis intérpretes dos mais nobres sentimentos das gentes de Aveiro. Foi esse aveirismo que funcionou como arma de arremesso contra a inclusão do seu nome numa Escola. Um conceito que tanto serve para noivar o espírito liberal do “berço da liberdade” como para cortejar figuras como Homem Cristo Filho, com nome de rua em Aveiro e considerado pelo historiador João Medina “o primeiro autêntico e indiscutível fascista luso”.[14] Também José Afonso veria o nome recusado para uma rua de Aveiro em nome do aveirismo. Argumento (serôdio) para a recusa: o cantor perfilhar um projecto de intervenção política “que não se coaduna com o das gentes de Aveiro”. O mesmo é dizer, incompatível com o aveirismo. Afinal que aveirismo é este, que se mostra incapaz de respeitar os vultos mais representativos da cidade e até do país?

Historiemos um pouco, por dever de memória, a incompreensão de alguns sectores da sociedade aveirense para com este cidadão exemplar que através do empenhamento cívico acabaria materialmente lesado, que pagou com a cadeia e as torturas físicas e morais o seu amor pela liberdade e a favor dela expôs, expondo-se. Ora através da escrita, ora erguendo a voz em haste de compromisso, generosidade e coragem. Foi esse o preço que pagou pela coerência de uma vida.

O médico e escritor não foi apenas perseguido em vida. Também o foi post-mortem. Em finais de 1978 os professores da antiga Escola Industrial e Comercial de Aveiro elegeram-no para patrono. Nessa mesma altura Homem Cristo foi o escolhido para a Escola que ainda hoje ostenta o seu nome. Apesar do processo de escolha ter sido idêntico nas duas Escolas, o nome de Mário Sacramento foi rejeitado para a então Escola Secundária n.º 1. Estranha e paradoxal visão de democracia, que em nome do aveirismo acatou pura e simplesmente os resultados mais em consonância com os seus valores e pontos de vista. O quê? Mário Sacramento?, rangeram de espanto os pilares do aveirismo. Até a Juventude Centrista se associou a este moderno espírito de cruzada ao manifestar, em comunicado, “a sua estranheza e repúdio pela escolha do nome de Mário Sacramento (…) distinto aveirense mas não menos distinto comunista”. Chamou-lhe, também, “a fina flor do materialismo dialéctico e da fidelidade marxista”.

Também não faltaram, para condimentar a polémica, as habituais pitadas de aveirismo: “… a maioria que a favor do seu nome se verificou, na consulta feita aos professores da Escola, está em desarmonia aberta com os sentimentos mais gerais, mais convictos e integrados dos aveirenses”. E os professores que votaram em Mário Sacramento acabaram por ser rotulados de “opacos analfabetos”, de “néscios e da mais vácua, ou mais espessa e impenetrável ignorância”.[15] Quanto aos professores que votaram em Homem Cristo, tudo muito democrático. Nem um reparo…

Em 1980 a memória de Mário Sacramento seria também agredida em Ílhavo, terra onde nasceu em 1920. A Câmara Municipal, na altura gerida pela Aliança Democrática, riscou-lhe o nome da toponímia local. Trocou-o pelo de Dinis Gomes, que presidiu à edilidade durante os tempos da ditadura. Argumento invocado: o escritor teria feito saber que não queria ser sepultado em Ílhavo. A falsidade do argumento, a “indecorosa atoarda” como lhe chamou Cecília Sacramento, viúva do escritor, foi de imediato desmentida na imprensa e a injustiça reparada.[16]

Assim se prova como foi tecido este processo verdadeiramente kafkiano em torno de Mário Sacramento. Em Ílhavo retiraram-lhe o nome de uma rua com o argumento de estar sepultado em Aveiro. Em Aveiro recusaram-lhe o nome por ter nascido em Ílhavo e por ferir a sensibilidade dos aveirenses. Quanta  alienação travestida de sabedoria. Os agravos cometidos em Aveiro e Ílhavo recaíram certamente no activista político e não no homem de cultura. Alguns dos que lhe denegriram o nome pouco ou nada saberiam da sua oposição ao positivismo clássico em cujas raízes mergulhou o pensamento republicano; da luta que travou contra os neopositivismos que considerava “as variantes do estruturalismo”, ou da demarcação do marxismo de Althusser ou até daquilo que o distanciava de Marcuse: “a substituição da classe operária pelas camadas universitárias como elemento motriz da dinâmica histórica”.[17]

Atento a todas as formas de expressão artística, Mário Sacramento sabia bem que o conhecimento humano só progride através do ensaio e do erro. Distinguiu-se como crítico literário e teórico do neo-realismo. Falou, com rara acuidade, de existencialismo e estruturalismo, de ciência e de religião. Discutiu estética, ideologia e a alienação de uma e outra. Dissertou sobre a ironia queirosiana. Dialogou e escreveu muito. Decerto para convencer, mas também para deixar-se convencer por aquilo que um verdadeiro diálogo tem fatalmente de integrador.

Hoje, transcorridos 50 anos após a Revolução dos Cravos, Mário Sacramento e José Afonso têm em Aveiro nome de rua e o primeiro também nome de Escola. Justa homenagem a duas figuras respeitadas no panorama cívico e cultural da cidade e do país. Ambos souberam interpretar, em tempos adversos, estas palavras avisadas de Mário Sacramento: “Só constrói quem se opõe ao que o nega”.[18] Uma forma, afinal, de permanecerem vivos, sem respiração assistida.

(Texto publicado em Folhas – Letras & Outros Ofícios [Revista do Grupo Poético de Aveiro], n.º 22, 2024).


1] António Pedro Pita/Odete Belo (Curadoria), “O Regresso de Mário Sacramento”, Catálogo da Exposição Voltar – Mário Sacramento: a hora do ensaio. Museu do Neo-Realismo, 04.6 a 30.10.2022.

[2] Entrevista a António Ferro, in Palavras no Tempo, Volume 1. Política. Diário de Notícias/Imprensa-Nacional Casa da Moeda, 1990, p. 59. Ver também Norberto Lopes, Visado pela Censura, Lisboa, Editorial Áster, 1975, p. 38.

[3] Mário Sacramento, Diário. Porto, Editora Limiar, 1975, p. 146.

[4] António Pedro Pita e Luís Augusto Costa Dias, A Imprensa Periódica na Génese do Movimento Neo-Realista (1933-1945). Catálogo da Exposição, editado pelo Museu do Neo-Realismo/Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, 1996, pp. 59-60. Ver também, sobre levantamento de textos de Mário Sacramento publicados em A Voz Académica, João Sarabando, Joaquim Correia e Cecília Sacramento (coord.), Livro de Amizade. Lembrando Mário Sacramento, Edições Húmus, Lda., 2009,  pp. 278-279.

[5] Os Cadernos de Manuel Anselmo, Volume I, Abril-Maio de 1960 (fascículo IV), p. 339.

[6] Alexandre O’Neill, Uma Lisboa Remanchada, in Poemas com Endereço, Lisboa, Livraria Moraes Editora 1962.

[7] Mário Sacramento, Frátria – Diálogo com os Católicos (ou talvez não), Porto, Editorial Inova, 1971, p. 44.

[8] Ver Diário de Lisboa, 08.01.1971, p. 11.

[9] Mário Sacramento, citado por Mário da Rocha, in Frátria – Diálogo com os Católicos (ou talvez não), p. 32.

[10] Idem, Carta-Testamento, Porto, Editorial Inova, 1973,  pp. 16-17. O envelope que contém a carta tem a data de 07.04.1967.

[11] Idem, Frátria – Diálogo com os Católicos (ou talvez não), p. 56.

[12] Idem, ibidem (…), p. 11. Artigo inicialmente publicado no Litoral, 09.11.1968.

[13] Mário da Rocha, in Frátria (…), p. 32.

[14] João Medina, “Os primeiros fascistas portugueses”, Vértice, n.ºs 400/401, Setembro/Outubro 1977, p. 604.

[15] Eduardo Cerqueira, in Litoral, n.º 1227, 08.12.1978.

[16] Em 13.04.1980 Cecília Sacramento enviou uma carta ao director de Litoral, (ver Litoral, n.º 1293, 18.04.1980) acompanhada de um texto enviado ao director do Jornal de Notícias. Aí se explica que a decisão do médico e escritor ser sepultado fora da terra natal partiu dela. A Carta-Testamento, aliás, não alude a qualquer preferência pelo local: “a família tem uma pirâmide egípcia em Ílhavo. Embora eu esteja farto de conhecer prisões em vida (…) não me oponho a ir para lá, se for mais económico ou mais fácil de arrumar”.

[17] António Pedro Pita, “Reler Mário Sacramento. A eterna quadratura do círculo”, Jornal de Letras, Artes e Ideias, 19.10 a 01.11, 2022, pp. 27-28.

[18] Mário Sacramento, Há uma estética Neo-Realista?, Lisboa, Publicações D. Quixote, 1968, p. 34.