Poesia de Abril

Deixo que a palavra
tão incerta
teça
a liberdade a meio
deste Abril
para que a memória em Portugal não esqueça
tomando da flor
o cravo na matriz
teimando que a paixão
a tudo vença
dizendo não àquilo
que não quis

(Maria Teresa Horta)

Salgueiro Miaia

“A tristeza da normalização democrática não são as eleições e os partidos, essa foi uma das razões dos cravos. A tristeza é que a sua imposição se fez expropriando a festa, a democracia que nascia nas ruas, nos empregos e dentro de cada família, dos seus direitos.

A tristeza da normalização não é a da vida ter mudado e termos chegado à sociedade de consumo. A tristeza é que a sua imposição se fez acentuando as raízes da desigualdade, coisificando as relações humanas, quebrando generosidade. A tristeza da nossa democracia é a dos seus limites e vulgaridades. Dito isto, não há razões para tristezas. O que se viveu valeu a pena. E o que vivemos é todo um programa de exigência. Democracia sem fim é o que aprendemos com Abril. Lá chegaremos, mesmo que hoje não saibamos como”.

(Miguel Portas)

Falo-te de Abril
companheiro
deste mês em que as palavras
se enlaçaram de gestos
e transformaram a vida
em mais que esperança

falo-te da luta
companheiro
desta luta agora
dia a dia
e do trabalho e do suor
e dos campos que de ti floriram

falo-te companheiro
deste mês Abril
e da tua força
em que não há enganos

(leonor santa-rita)