Desde que aqui cheguei – nos primeiros dias de 1947 – até hoje, muitas vezes tenho ouvido contar uma história, que não julgo exacta: – que o lugar de Vila Nova, desta freguesia da Palhaça, conseguiu a igreja paroquial dentro dos seus limites, por ter vencido o lugar da Tojeira por um voto. Tinha aquele mais uma casa do que este.
Não concordo com esta história. É, no entanto, natural que, lá pelos meados do século dezassete, o aglomerado populacional, que daria margem no século dezanove à criação desta freguesia, se estendesse ao longo do caminho que de Águeda conduzia à feira da Palhaça, não tendo importância populacional nesse tempo os lugares do Arieiro e Albergue, que talvez nem sequer existissem.
O que é histórico é que, em data que desconhecemos, se construiu a capelinha de S. Pedro, no local onde hoje se encontra a actual igreja, sendo esta um produto de sucessivas transformações daquela.
Segundo lápide, que se pode ler na parede norte da capela-mor, em 1804 foi esta freguesia desanexada da Matriz de Soza. Uma vez criada a freguesia, surgiu o problema da igreja, pois as dimensões da capela de S. Pedro não serviam a paroquial E optou-se pelo mais fácil: – aumentar o corpo da capela, o que se realizou no ano de 1831. Porém, o problema não estava resolvido satisfatoriamente. A igreja continuava pequena. Em 1837 é lançada a primeira pedra para a continuação da actual capela-mór. E assim ficou a igreja da Palhaça até aos nossos dias, com excepção da torre, que, de velha, ruiu até aos alicerces em 1914, sendo a actual construída em 1917 a expensas da Junta de Freguesia.
Partindo duma capela feita com dimensões arquitectonicamente bem proporcionadas, chegou-se a uma igreja sem estética e sem comodidade, por mais reparações e melhoramentos que desde então se lhe tenham feito. Temos uma igreja tão desproporcional, que para seis metros e vinte centímetros de largura há um comprimento de vinte e oito metros.
Entretanto, a divisão matricial das freguesias levava os limites da Paróquia de Oiã até às portas de Vila Nova, a cerca de quinhentos metros da sua igreja. A freguesia forçadamente cresce para poente, aparecendo os lugares do Arieiro e Albergue e cobrindo-se de casas a rua que une a igreja ao Largo de S. Pedro, o centro da freguesia. E, em fins do século passado, volta a pôr-se o problema da igreja, que se reconhece não estar localizada e não ter condições decentes para a boa celebração dos actos do culto. E o problema toma tal acuidade – segundo informações colhidas – um dos antepassados da família Capão, do Arieiro, oferece assentamento e material suficiente para cobrir a nova igreja. Mercê de circunstâncias várias, este benemérito não consegue ver o seu sonho realizado e, reagindo, mandou construir, no Arieiro, em propriedade sua, a Capela de Nossa Senhora do Rosário, que enriquece com alfaias necessárias ao culto e mantém durante anos um capelão privativo, tendo alcançado da Santa Sé o privilégio de conservar permanentemente o Santíssimo no referido templo.
Somos informados que mais tarde um outro senhor, da família Martins, igualmente do Arieiro, – outra casa rica da freguesia – sentindo o mesmo problema da igreja, comprou o terreno e casas sitas no lado norte do cemitério, com o fim de as doar para assentamento da nova igreja. Mas o sonho não passou outra vez de sonho e o bom cristão morreu sem poder dar a sua terra à igreja.
Mas não se deixou de pensar na nova igreja. E assim, segundo documentos em nosso poder, em 1943 há uma sessão em que o pároco e mais povo deliberou dar novos passos para a dita construção. E ainda desta vez o sonho não passou de sonho…
E já no nosso tempo – 1947 – nova tentativa se fez, chegando uma comissão a consultar todos os chefes de família sobre o quantitativo que cada um podia dar. E mais uma vez o sonho não passou de sonho…
Desde então, tendo as autoridades locais ao tempo contra nós, abandonou-se totalmente o sonho da nova igreja, e lançou-se ombros à reforma completa da velha, para que nem tudo se perdesse. Até que, em Novembro de 1955, numa tarde de sol de inverno, recebemos a visita do Sr. Bispo Auxiliar da Diocese, que, juntamente com o Sr. Director da J. A. de Estradas, vinha estudar o corte do adro da velha igreja. Falando-se da nova, diz o Sr. Bispo: – Tente fazê-la; não gaste mais um centavo nesta. E, ao nosso desalento, pelas tentativas frustradas, responde o Sr. Director: – Tente mais uma vez…
E tentou-se… e esperamos vencer… e jurámos tornar realidade o sonho começado a sonhar há mais de sessenta anos! É longa a caminhada… é duro o calvário de preocupações… de desalentos… de noites mal dormidas… de incompreensões deste ou daquele que tinha obrigação de também carregar com a cruz. Mas Deus está connosco. A casa é d’Ele e para Ele. E a quase totalidade dos nossos paroquianos sente que este problema é o seu problema.
Dentro de poucos dias, a grande construção – a maior do concelho nos últimos anos – começará a surgir da terra – no centro da freguesia, pertinho dos nossos mortos, para melhor por eles rezarmos, a dois passos do coração da freguesia da Palhaça, que é o Largo de S. Pedro.
Que todos os Palhacenses, que amam a sua terra, ganhando o pão com o suor do seu rosto, cá, na América, no Brasil, na Venezuela, no Canadá ou na África, – que todos, de fé católica ou não, ajudem esta grande obra, que deve ser na Palhaça a obra do século XX.
De todos precisamos, pois o orçamento ronda os 1 800 contos.
Com todos conta a comissão e o vosso
PRIOR
(Texto publicado por padre Manuel de Oliveira no Jornal da Bairrada, Ano VII, n.º 165, 17.08.1957, pp. 1 e 4).