Quando partilhamos um texto isso significa que, no essencial, concordamos com ele. É o que acontece com o texto de Carlos Esperança que vou reproduzir. Alguns amigos não se vão rever nesta partilha, tal como não me revejo em algumas partilhas deles, onde subscrevem, no essencial, o que tornam público.
É a democracia a funcionar, desde que o contraditório seja acompanhado pelo máximo de respeito pelo outro. A amizade, que devemos situar no terreno da moral e da ética, não teme confrontos políticos (o conflito é a essência da vida política), ideológicos ou religiosos. Rasgar amizades por diferenças de opinião é negar a essência da democracia e um sintoma de menoridade mental. E também de intolerância. Jamais vou bloquear o acesso a este mural a quem de mim discorda e me confronta de forma séria ou irónica, pois o humor é um tónus de saúde. Não hesitarei em o fazer por imperativos de ordem moral, ou falta de carácter, porque não estou disponível para responder a insultos. Não me custa nada reconhecer a inteligência dos argumentos de quem de mim discorda, e por isso cultivo amizades com quem está nos antípodas do que penso em termos políticos ou religiosos. Amizades que só resistem porque são adubadas e regadas com a tolerância recíproca.
Para lá do texto que vou partilhar, também subscrevo este comentário de Carlos Esperança: “Colocar ‘gosto’ nos elogios parece-me narcisismo”. Nada poderia vir mais ao encontro do meu sentir nesta questão. Em vez do ‘like’ a um elogio, prefiro o silêncio. Ou até o breve comentário, relativizando o que nele me constrange. Entenda-se: não questiono a dose de generosidade de quem elogia, mas a incomodidade de quem não sabe lidar bem com isso. Não é falta de auto-estima. Será mais uma forma de recusar as capelinhas do elogio mútuo que no Facebook assentaram arraiais, o mendigar de ‘likes’ que outra coisa não expressa senão o incontornável desejo de afirmação pessoal de quem nesse espelho virtual e narcísico gosta de se contemplar.
Se às vezes, um tanto a contragosto e à revelia do que penso, coloco um ‘like’ num elogio, é para que quem elogiou não se sinta desconsiderado ou veja ingratidão no meu silêncio. Compreendo que outros gostem de carambolar ‘likes’ como quem avia pãezinhos quentes, talvez porque lhes afague o ego, mas essa não é a minha praia. Há que saber respeitar o direito ao recato, à não exposição e ao silêncio, da mesma forma que devemos respeitar os mais extrovertidos, afinal ramos diferentes da mesma imperfeição e fragilidade que nos caracteriza enquanto humanos. Era só.
E agora sim, o texto de Carlos Esperança, intitulado “O direito ao contraditório e ao ruído”
“Gosto de quem exerce o legítimo direito de discordar das minhas posições invocando o gosto de pensar pela própria cabeça, na insinuação subliminar de que eu penso com uma cabeça alheia.
Aprecio a alegação contra a denúncia dos crimes cometidos por Hitler, Franco, Pinochet ou Salazar com perguntas retóricas sobre os de Mao, Estaline, Enver Hoxha ou Pol Pot, como se alguma vez tivessem defesa uns ou outros.
Agrada-me o argumento irritado, quanto à denúncia de crimes cometidos por militantes de um qualquer partido, com o desfiar do rol de delinquentes de um partido concorrente, como se a bondade partidária se medisse pela conduta dos militantes.
Regozijo-me com a amnésia dos admiradores de Cavaco, Passos e Portas, que os julgam salvadores da Pátria e responsabilizam o governo anterior pelas suas malfeitorias, como se a crise financeira mundial de 2008 não tivesse existido, e ignorando que a falência de um Estado ou de uma empresa (bancarrota) não se confunde com a fissura numa banca da praça do peixe (banca rota), como há uma década vêm escrevendo.
Mas nada me extasia tanto como os ataques irritados a qualquer governo que não inclua o PSD e o seu apêndice de serviço, o CDS. Há quem, na sua crença, pense que Cavaco é um intelectual e Passos Coelho um académico. É mais um motivo para minha diversão.
Finalmente, resta-me recordar à direita truculenta a satisfação manifestada pela eleição de Bolsonaro, por Paulo Portas, Nuno Melo, Assunção Cristas, André Ventura e Luís Nobre Guedes, para não falar da carta de felicitações que Santana Lopes lhe enviou”.
Sempre a aprender e reflectir, obrigada.
Gostei muito.
Uma boa semana, abraço amigo Carlos Braga
Eu é que agradeço, amiga Arminda, a atenção que dispensa ao que por aqui vou escrevendo. Quando tiver que discordar, esteja à-vontade. Todos aprendemos com todos. Um abraço e a melhor saúde possível nestes tempos difíceis que estamos a viver.